segunda-feira, 5 de julho de 2010

Jornal experimenta força na era digital

Com erro em anúncio sobre seleção, jornal experimenta a força do boca a boca na era digital e revela nova atitude.

"VALEU, Brasil. Nos vemos em 2014." O adeus à seleção, que hoje até soa simpático, causou revolta ao ser publicado, por engano, em anúncio na terça-feira, um dia depois de uma vitória acachapante sobre o Chile. Virou o assunto da semana envolvendo A Folha.

A propaganda do supermercado Extra, patrocinador oficial da seleção, dizia que o time saía do Mundial, mas "não do coração da gente". O erro aconteceu na inserção de anúncios. O jornal tem um horário-limite para a entrega das propagandas e, como não dava para esperar o fim da partida, a agência de publicidade mandou duas versões: uma para vitória e outra para derrota. É um procedimento corriqueiro, mas, por falha humana, foi colocado o anúncio do fim do sonho do hexa, dando a impressão -terrível para qualquer anunciante- de que torcia contra os brasileiros. E expondo algo que os publicitários não gostam de admitir: de que precisam trabalhar também com o pior cenário. O anúncio errado ocupava um espaço estreito no caderno Copa 2010 e tinha uma formulação confusa, com parte do enunciado em zulu ("A I qembu le sizwe", que significa seleção). Teria passado sem tanta repercussão não fosse o Twitter. Na segunda maior rede social no país -com mais de 10 milhões de brasileiros-, a gafe espalhou-se rapidamente. Ávidos por notícias do tipo "espírito de porco", os tuiteiros se alvoroçaram, (isso sim é hard news!"), cobraram providências ("Quem vai ser demitido?") e desfiaram piadas ("Extra será patrocinador oficial do Corinthians na próxima disputa da Libertadores"). Houve até uma corrente conspiratória que, em 140 caracteres, acusou o jornal de manobra tucana: "Desconfio que A Folha trocou a propaganda do Extra em represália ao fato de a sra. Abílio Diniz ter organizado reunião de mulheres com Dilma". Os paranóicos (não foi apenas um) referiam-se a um chá da tarde oferecido por Geyze Diniz para Dilma Rousseff e três dezenas de socialites no último dia 25. O fuzuê foi tamanho que Abílio Diniz tuitou uma resposta dura, em sequência de posts: "Ontem o Brasil fez seu melhor jogo na Copa. Infelizmente, A Folha cometeu um grave erro com o anúncio do Extra, o que é inadmissível. Estou ao lado dos que se indignaram com o anúncio publicado erroneamente pelo jornal. Não compartilhamos com a impunidade e tomaremos as providências, que não eliminarão o erro, mas irão responsabilizar os culpados. Como presidente do Conselho de Administração do Grupo Pão de Açúcar, peço desculpas, em meu nome e do Grupo, aos brasileiros e, principalmente, aos jogadores da seleção".

Além da fúria do anunciante, A Folha sentiu a força do boca a boca na era digital. O que era erro de inserção virou notícia em vários sites brasileiros e até no do jornal inglês "The Guardian" ("Anúncio de jornal elimina Brasil das finais").

NOVA POSTURA

A Folha também reagiu no Twitter. Respondeu aos que comentavam o incidente, deixando evidente uma nova postura do jornal (foi criado há apenas três meses o cargo de editor de mídias sociais, para, entre outras coisas, acompanhar o que se diz sobre A Folha nas redes.)
"O jornal precisa se fazer ouvir e dialogar também no ambiente das mídias sociais", afirma a Secretaria de Redação, que pretende desenvolver estratégias para a circulação de notícias, prospectar pautas e identificar tendências na internet.
O que parece óbvio para muitas empresas é uma pequena revolução na Barão de Limeira. A Folha costumava ter uma atitude estoica diante dos bombardeios que sofre no mundo digital.

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